Roberta

Carvalho
A pele do corpo em meio a folhagens. Grandes esculturas de luz em movimento. Roberta Carvalho mergulha em sua própria raiz, em busca de respostas.

Habitar a Amazônia é realmente fazer parte dela? A artista em sua série Symbiosis, aqui apresentada, faz uma grande busca pessoal, quando se despe e outros meios e se transforma em luz, desenhando rostos-signos do meio que interage. A metamorfose. Além-natureza.

Nas árvores surgem rostos que nos fitam em demasiado, que nos alcançam e que nos arrebatam. Seguem-nos com os olhos. Vigilantes noturnos. Um mergulho no outro, uma espécie de felicidade expandida.

A primeira projeção desse projeto foi a imagem de um frame de um filme que a artista tinha feito anos antes, mas que fora extraviado, e, aquilo dali era a última lembrança que poderia ter. Chamava-se Luz. Que fazia menção a um haikai do artista

Yi Sang. A imagem de um homem em posição fetal é algo como resgate de si. Lumen-Essência é esse feixe luminoso escultórico, que vai além do olhar atento voltado a região, além de um discurso ecológico, é a busca incansável da artista sobre sua própria natureza. Chego a ouvir Leminski ao longe, "as folhas tantas, nem sabe a quantas"
Sobre a Natureza de Roberta
Texto de autoria de Keyla Sobral, janeiro/ 2013, na ocasião a abertura da exposição Lumen-essência de Roberta Carvalho
Roberta Carvalho projeta grandes imagens – rostos e corpos aparentemente imóveis – sobre o volume da folhagem das árvores. Até aí parece não haver nada que diferencie seu trabalho das grandes projeções de imagem produzidas pela publicidade ou mesmo por outros tantos artistas contemporâneos que se dedicam a esta mídia. O que define a singularidade do trabalho é um conjunto de elementos sutis que começa na observação do espaço urbano e sua paisagem arbórea; se estende na compreensão da presença e do fluxo dos passantes e habitantes daquele determinado lugar e se amplia no uso da técnica e na escolha das imagens a serem projetadas. O trabalho se desdobra em ações e experiências, em processo contínuo que se configuram como intervenção urbana, na qual estão em jogo arte, natureza e cultura. Nesse jogo, a artista procura no termo proveniente da ecologia – Symbiosi – a base de sua experiência de união de duas matérias distintas, da “...relação mutuamente vantajosa entre dois ou mais organismos vivos de espécies diferentes. E é dessa forma que a symbiosi, aqui proposta, ocorre. Dois entes: imagem e natureza, sendo a natureza hospedeira da arte, criando com ela um novo ser, um UNO”, declara a artista.

As imagens projetadas são, em sua grande maioria, rostos cuja imobilidade constante é repentinamente quebrada por leves movimentos dos olhos ou da cabeça. O retrato gigante suspenso na copa da árvore de repente se move e surpreende a atenção do passante. Toda a volumetria da árvore é absorvida, e o rosto adquire uma tridimensionalidade que incorpora a sua forma. Os olhos imensos da árvore nos observam. A paisagem nos contempla, age sobre nós pondo em jogo uma situação mais complexa: a ideia de árvore como cultura, e não unicamente como natureza. A árvore urbana faz parte de um projeto de cultura, um projeto urbano. Nesse sentido, a relação proposta pelo trabalho se daria entre imagem, cultura e paisagem em que a natureza seria um conceito em crise.

Também em crise está o suporte da imagem, assim como a própria fotografia: estática e em movimento; matéria e não-matéria; dentro e fora da galeria. As dualidades ou ambiguidades materiais do trabalho de Roberta permitem ao público ter qualidades diferentes de apreensão. As grandes projeções no espaço se transformam também em fotografias como uma espécie de performance que, na materialidade do suporte em papel fotográfico, ganha uma narrativa em processo na parede da galeria. As esculturas de luz acontecem no tempo da ação, porém se transformam na suposta fixidez da imagem fotográfica já como paisagem reinventada pela cultura tecnológica. Experimentamos diante desses seres gigantes, em seus breves movimentos, a sensação das rápidas lembranças que aos poucos vão se constituindo na duração mais longa da memória.
Symbiosis
Por Mariano Klautau Filho. Texto publicado no catálogo da exposição “Brasil. Tierra Prometida” Casa Amèrica Catalunya Curadoria de Iatã Cannabrava, maio de 2012.